Estruturas misteriosas de 2.800 anos descobertas na antiga Jerusalém desconcertam especialistas

Duas enigmáticas estruturas antigas foram recentemente descobertas em Jerusalém, deixando especialistas perplexos sobre seu propósito original.

De acordo com um relatório divulgado pela Autoridade de Antiguidades de Israel (IAA), essas instalações escavadas na rocha, que datam de quase 3.000 anos atrás, representam um achado sem precedentes na história arqueológica do país.

Uma descoberta única e misteriosa

As estruturas foram encontradas durante escavações no Parque Nacional da Cidade de David, conduzidas por equipes da IAA e da Universidade de Tel Aviv. Segundo os pesquisadores, essas formações provavelmente datam da época do Primeiro Templo, que teria existido entre os séculos X e VI a.C., durante o período dos antigos reis da Judéia.

A proximidade dessas instalações ao local do Templo e ao palácio real sugere que poderiam ter sido utilizadas para fins relacionados à economia ou às atividades das instituições proeminentes da cidade na época.

Até o momento, as escavações revelaram duas instalações separadas por uma distância de pouco mais de 10 metros, sugerindo que poderiam ter feito parte de uma única estrutura maior. No entanto, mesmo após meses de estudos e análises, o propósito exato desses canais esculpidos na rocha permanece um mistério.

Tentativas de decifrar a função das estruturas

Yuval Gadot, professor do Departamento de Arqueologia e Civilizações Antigas do Oriente Próximo da Universidade de Tel Aviv, destacou que o mistério só se aprofundou após a descoberta da segunda estrutura, localizada ao sul da primeira. “Quando encontramos a segunda instalação, percebemos que havíamos descoberto algo único. No entanto, por ser uma estrutura nunca antes vista em Israel, ficamos sem referências claras para interpretá-la”, afirmou Gadot em um comunicado.

Yiftah Shalev, investigador principal da IAA, compartilhou um relato semelhante sobre a perplexidade dos arqueólogos diante da descoberta. “Ao examinar a instalação, entendemos que havíamos tropeçado em algo inédito. No entanto, como nunca tínhamos visto uma estrutura semelhante, não sabíamos ao certo qual poderia ter sido sua função ou até mesmo sua datação exata. Para esclarecer essas questões, trouxemos diversos especialistas ao local, incluindo peritos em geologia e análise de resíduos”, explicou Shalev.

Os pesquisadores chegaram até a envolver a unidade forense da polícia de Israel na investigação, na esperança de identificar resíduos orgânicos ou vestígios de sangue nos canais. Contudo, mesmo após análises detalhadas com o uso de tecnologias avançadas, não encontraram indícios que pudessem esclarecer definitivamente o propósito dessas estruturas.

Hipóteses sobre o uso dos canais

Apesar da falta de evidências conclusivas, algumas hipóteses sobre o uso dessas instalações estão sendo consideradas. Shalev sugere que, pelo menos no caso da instalação ao norte, os canais poderiam ter sido utilizados para imersão de algum tipo de produto, e não necessariamente para drenar líquidos. Uma possibilidade é que fossem usados no processamento de linho, que requer um longo período de imersão para amaciar as fibras antes de serem transformadas em tecido.

Outra hipótese levantada é a produção de silan, um xarope doce feito de tâmaras. O investigador sugere que os canais poderiam ter sido utilizados para deixar as tâmaras secando ao sol, permitindo a produção do mel de tâmaras. “Instalações com formatos semelhantes foram encontradas em regiões distantes como Omã, Bahrein e Irã, onde se produzia silan de maneira tradicional”, apontou Shalev.

Desvendando pistas arqueológicas

Embora as duas estruturas sejam semelhantes em conceito, os pesquisadores identificaram algumas diferenças sutis no modo como os canais foram esculpidos e projetados, sugerindo que poderiam ter tido finalidades ligeiramente distintas. As análises até agora permitiram datar o período em que as instalações foram abandonadas, que parece ter ocorrido no final do século IX a.C., durante o reinado dos reis bíblicos Joás e Amazias.

De acordo com Gadot, é provável que essas estruturas tenham sido construídas algumas décadas antes desse período, possivelmente para atender às necessidades de uma economia que girava em torno da produção de produtos agrícolas ou têxteis. No entanto, como não existem registros históricos claros sobre instalações desse tipo na região, os pesquisadores ainda precisam coletar mais evidências para confirmar qualquer uma das hipóteses.

Nos próximos meses, a equipe de arqueólogos planeja realizar novas escavações e análises de amostras de solo coletadas das estruturas. A esperança é que, ao investigar vestígios microscópicos ainda presentes no local, possam finalmente identificar o tipo de produto que teria sido processado ou armazenado nesses canais.

Importância histórica da descoberta

O parque onde as instalações foram encontradas é conhecido por abrigar o sítio arqueológico da Cidade de David, que a maioria dos estudiosos acredita ser o assentamento original de Jerusalém. A descoberta de estruturas tão enigmáticas e únicas lança nova luz sobre a complexidade da vida econômica e social da antiga Judéia, particularmente durante o período do Primeiro Templo.

Embora ainda haja muito a ser descoberto, a equipe da IAA está confiante de que os estudos em andamento poderão desvendar segredos históricos importantes sobre o uso dessas estruturas misteriosas. Como ressaltou Shalev, "o que encontramos é apenas a ponta do iceberg, e o que pode ser revelado nos próximos anos pode transformar nossa compreensão da vida na antiga Jerusalém".

A descoberta já está gerando grande interesse entre historiadores e arqueólogos de todo o mundo, destacando a importância de continuar explorando essa região rica em história. À medida que mais evidências forem coletadas, poderemos ter uma visão mais clara do papel dessas estruturas na economia e cultura da Jerusalém bíblica, contribuindo para a compreensão de um dos períodos mais fascinantes da história antiga.